Conta-se que, no princípio do mundo, o Senhor entrou em dificuldades no desenvolvimento da obra terrestre,
porque os homens se entregaram a excessivo repouso.
Ninguém se animava a trabalhar.
Terra solta amontoava-se aqui e ali. Minerais variados estendiam-se ao léu.
Águas estagnadas apareciam em toda parte.
O Divino Organizador pretendia erguer lares e templos,
educandários e abrigos diversos, mas... com que braços?
Os homens e as mulheres da Terra, convidados ao suor da edificação por amor, respondiam: -
"para quê?" E comiam frutos silvestres, perseguiam animais para devorá-los e dormiam sob as grandes árvores.
Após refletir muito, o Celeste Governador criou o dinheiro, adivinhando que as criaturas,
presas da ignorância, se não sabiam agir por amor, operariam por ambição.
E assim aconteceu.
Tão logo surgiu o dinheiro, a comunidade fragmentou-se em pequenas e grandes facções,
incentivando-se a produção de benefícios gerais e de valores imaginativos.
Apareceram candidatos a toda espécie de serviços.
O primeiro deles pediu ao Senhor permissão para fundar uma grande olaria.
Outro requereu meios de pesquisar os minérios pesados de maneira a transformá-los em utensílios.
Certo trabalhador suplicou recursos para aproveitamento de grandes áreas na exploração de cereais.
Outro ainda implorou empréstimo para produzir fios, de modo a colaborar no aperfeiçoamento do vestuário.
Servidores de várias procedências vieram e solicitaram auxílio financeiro destinado à criação de remédios.
O Senhor a todos atendeu com alegria.
Em breve, olarias e lavouras, teares rústicos e oficinas rudimentares se improvisaram aqui e acolá,
desenvolvendo progresso amplo na inteligência e nas coisas.
Os homens, ansiosamente procurando o dinheiro,
a fim de se tornarem mais destacados e poderosos entre si,
trabalhavam sem descanso, produzindo tijolos,
instrumentos agrícolas, máquinas, fios, óleos, alimento abundante,
agasalho, calçados e inúmeras invenções de conforto, e assim, a terra menos proveitosa foi removida,
as pedras aproveitadas e os rios canalizados convenientemente para a irrigação;
os frutos foram guardados em conservas preciosas;
estradas foram traçadas de norte a sul, de leste a oeste e as águas receberam as primeiras embarcações.
Toda gente perseguia o dinheiro e guerreava pela posse dele.
Vendo, então, o Senhor que os homens produziam vantagens e prosperidade,
no anseio de posse, considerou, satisfeito:
– Meus filhos da Terra não puderam servir por amor,
em vista da deficiência que, por enquanto,
lhes assinala a posição; todavia, o dinheiro
estabelecera benéficas competições entre eles,
em benefício da obra geral.
Reterão provisoriamente os recursos que me pertencem e,
com a sensação da propriedade,
improvisarão todos os produtos materiais
de que o aprimoramento do mundo necessita.
Esta é a minha Lei de Empréstimo
que permanecerá assentada no Céu.
Cederei possibilidades a quantos me pedirem,
de acordo com as exigências do aproveitamento comum;
todavia, cada beneficiário apresentar-me-á contas do que houver despendido,
porque a Morte conduzi-los-á, um a um, à minha presença.
Este decreto divino funcionará para cada pessoa,
em particular, até que meus filhos,
individualmente aprendam a servir por amor à felicidade geral,
livres do grilhão que a posse institui.
Desde então, a maioria das criaturas passou
a trabalhar por dedicação ao dinheiro,
que é de propriedade exclusiva do Senhor,
da aplicação do qual cada homem
e cada mulher prestarão contas a Ele mais tarde.
Livro: Alvorada Cristã – Néio Lúcio – Chico Xavier